terça-feira, 5 de abril de 2011

Criança e Infância na Contemporaneidade

Infância! A mais bela invenção da modernidade!
Finalmente a criança é reconhecida como um ser dotado de um mundo próprio, com uma visão de mundo que difere da visão do adulto. Criança tem que brincar, imaginar, sorrir, aprender e viver sem grandes responsabilidades. Nasce a infância como uma fase especial de todo e qualquer ser humano, dotada de uma base científica para justificá-la e defendê-la! Stalin e Hitler foram nenéns um dia.
Então no século XXI, a sociedade tem aquele cuidado especial com a criança, ela é olhada com carinho e como alguém frágil e ingênuo que precisa ser protegido, ficamos estarrecidos diante de casos de pedofilia e exploração do trabalho infantil. Certo?
Até certo ponto, sim. A concepção de criança e infância, assim como qualquer outra concepção, não pode ser entendida de maneira universal. Existem crianças e infâncias. É verdade que a concepção predominante tem sido a da criança e infância que precisam ser protegidas e preservadas.
Porém, qual tem sido nossa visão diante daquelas crianças que vivem a pedir nos semáforos ou mesmo no mundo das drogas e do crime? Elas não parecem ingênuas e fofinhas. E por que não? O que falta nessas crianças? Esses meninos e meninas não têm seu direito a infância conforme maravilhosamente exposto no ECA. E por que não? E as crianças que trabalham como quebradeiras de coco babaçu no Maranhão? E as crianças que trabalham nas pedreiras, na lavoura, as crianças que trabalham como domésticas?
Por outro lado, temos as crianças de classe média e alta. Ah, essas sim possuem aquela infância descrita e idealizada por Rousseau! Até certo ponto!
O que podemos sentir, cada vez mais, são crianças atarefadas, cansadas entre a natação e o inglês, entre o ballet e o judô. Crianças que não correm mais nem ralam os joelhos e nem mastigam de boca aberta; crianças qua assistem  à novela e ao BBB - independente do seu conteúdo impróprio, crianças que são bombardeadas todos os dias e por horas pela publicidade! Crianças alimentando desejos que não são seus! Crianças que cultuam a aparência - o brinquedo, a roupa, o celular da moda. Crianças já iludidas diante do mundo fantástico do consumo quando deveriam estar iludidas diante do mundo fantástico da infância - a única ilusão que não machuca! Novamente, percebe-se que também elas não têm infância. E por que não?
Minha intenção aqui não é dar respostas aos porquês, e sim deixar aquela coicerinha insuportável de quem precisa saber - queremos saber.
Podemos apontar,porém, que tanto na criança pobre quanto na criança mais abastada, a perda da infância tem um dedo, ou o braço inteiro, de um sistema capitalista competitivo, excludente e também sedutor.
Por um lado,o trabalho que se impõe inexoravelmente para a criança que precisa sobreviver dentro desse sistema; e por outro, a criança que é atraída continuamente pela propaganda e o consumo sustentando a sobrevivência desse sistema ...capitalista.